Meu bisavô era um faz-tudo que trabalhou na roça, foi operário, músico, químico autodidata e fotógrafo. Meu avô materno, seu genro, aprendeu com ele a revelar e ampliar fotos. Por coincidência o seu próprio genro, meu pai, também gostava de fotografar. Por conta dessas afinidades eu herdei da família muitas e muitas fotos, algumas bem antigas.


Em 1998, quando eu havia recém-aprendido a usar o photoshop, escaneei alguns desses retratos antigos, alguns objetos (cartas, tecidos, uma pedra) e montei esta série. Estava interessada nas camadas, as do photoshop em relação com as camadas do tempo, que me pareciam tão distantes e também tão palpáveis.


Também senti necessidade de escrever frases para que os verbos brincassem com passado, presente e futuro. A ideia foi mexer, mesclar, misturar, costurar essas noções de tempo tidas como separadas mas que para mim parecem se entremear, talvez pela convivência estreita com meus avós, suas fotos e histórias, ou talvez porque realmente se entremeiem.