Fiz esta série durante o segundo e o terceiro mês de quarentena, quando estava bastante perturbada pela impossibilidade de sair, de fazer as coisas do modo como fazia antes, enfim, de estar no mundo da maneira como eu gostaria de estar. O ponto de partida foram os sonhos; nos meus sonhos eu estava em atividade, estava "no mundo". Como pano de fundo usei as imagens da cama, bastante óbvias como o lugar onde o corpo sonha o sonho, mas bastante contrastantes também, porque mostram a monotonia do cenário diário, a mesma cama e a mesma luz no amanhecer de mais um dia, que prometia ser igual ao dia anterior.


Refletindo sobre esse contraste percebi como os sonhos eram preciosos; naquela fase eles representaram para mim a ação na inação, um universo de possibilidades num momento de engessamento das possibilidades, potência interna na impotência externa. Essa percepção do mundo interno como local de ação foi um ponto de partida que me permitiu ficar em paz e continuar produzindo durante este longo período de isolamento.