O modo como surgiu a ideia para este trabalho me fez pensar bastante sobre a dinâmica dos processos criativos. Desde sempre fui cismada com a noção do tempo, essa coisa de passado, presente e futuro. Essa cisma talvez tenha nascido, ou pelo menos se alimentado, das caixas de retratos antigos com as quais lidei desde criança, sentada com minha avó
para ver fotos e ouvir "causos"


O tema do tempo atravessa toda a minha produção, e tinha sido abordado de modo específico em 1998 e 2007, nas séries Túnel do tempo e Silêncio. Em 2010 vi um processo seletivo que se encerrava em três dias; não tinha a intenção de me inscrever com um prazo tão curto, mas de repente uma ideia surgiu, simplesmente veio, como se nascida pronta.


É claro que ela não veio do nada, que resultou de processos anteriores e anos de reflexão sobre o assunto. Mas o modo como ela chegou, repentinamente e sem ser convidada, foi interessante. Foi como se um programa estivesse rodando em segundo plano há anos e naquele dia imprimisse um resultado. Fiz rapidamente um texto, uma montagem de fotos, apresentei o projeto e ele foi selecionado. Aí eu senti muita preguiça de executar o que tinha proposto, porque a ideia foi tão satisfatória que o trabalho já me parecia feito.


Mas o processo de execução foi uma delícia, recebi dicas e feedbacks impressionantes das pessoas na rua, fui (muito) ajudada por estranhos. O catálogo da exposição conta um pouco mais dessa história, traz depoimentos dos transeuntes e explica a ideia que "nasceu pronta".